VMB 2010 CELEBRA UM MUNDO POP-ROCK RETARDADO

22 09 2010

Por: Régis Tadeu
Originalmente publicado:
Yahoo

Imagine que você foi convidado para a festa de 20º aniversário de alguém e, ao chegar ao local, percebe que a pista de dança está vazia, os convidados estão em silêncio e o aniversariante passa o tempo todo falando ao microfone o quanto ele é legal, apresentando seus primos, todos mongolóides, daqueles que lambuzam a testa na hora de tomar sorvete, e fazendo-os cantar da maneira mais desafinada do mundo. Imaginou?

Pois esta sensação é infinitamente melhor do que aquela que praticamente derreteu as retinas de quem teve a coragem de assistir ao VMB 2010, mais uma ocasião em que a MTV nos brinda com um retrato inequívoco de que grande parte do meio musical – e, por conseguinte, de toda uma geração – está indo definitivamente para o buraco.

Quando o pessoal do Yahoo! Brasil pediu gentilmente para que eu escrevesse um artigo com minhas impressões a respeito de tal premiação, juro que tentei encarar a empreitada com uma expectativa otimista, mesmo sabendo que a lista dos indicados ao prêmio era mais fraca que sopa de albergue noturno. Ingenuamente, cheguei a acreditar que a MTV iria conseguir barrar este absurdo processo de votação popular, controlando os tais “votos” para que uma mesma pessoa não ficasse com a ponta dos dedos em carne viva de tanto votar em seu ídolo pelo telefone, pela internet ou pelo diabo a quatro. Muita ingenuidade da minha parte, né?

Eu já percebi que a coisa seria uma tragédia logo no tal “Aquecimento VMB”, quando um casal de atores de um programa da própria emissora, Quinta Categoria, tentava ser engraçado enquanto fazia merchan explícito de desodorante, refrigerante, carro e outros produtos, em cenas pra lá de constrangedoras. Nas entrevistas antes do evento, artistas se portavam como se estivessem anestesiados – menos no caso de Otto, que parecia estar dopado com alguma substância emburrecedora.  Mas eu não estava preparado para o que estava por vir…

Logo no início do programa, uma ótima ideia – uma interação entre o bom apresentador Marcelo Adnet e alguns artistas (Marcelo D2, Sandy, o guitarrista do Cachorro Grande e o jurado Miranda, do Qual é o Seu Talento?) – foi jogada fora por absoluta falta de criatividade. Daí para frente, o circo de horrores tomou proporções babilônicas. Acompanhem a sequência de eventos:

– Muito mais vergonhoso que o NX Zero ganhar o prêmio de “Melhor Show” foi o seu vocalista, Di, dar o telefone de contato para quem quisesse agendar uma apresentação de sua banda ridícula. Um absurdo total!

– Apesar de uma boa imitação do Faustão feita pelo Adnet, isto foi insuficiente para disfarçar o quanto as vinhetas para a categoria “Aposta MTV” foram primárias. O ganhador – um tal de Thiago Pethit – parecia ter caído da cama de tão sonolento e desanimado com o prêmio;

– A apresentação ao vivo do Restart foi aquela fraqueza e desafinações de sempre, mas pelo menos deu para sacar que o batera Thomas é bom, o único que tem chance de se dar bem como músico quando a banda encerrar as atividades – algo que todos nós esperamos que aconteça o mais rápido possível;

– O anúncio de Justin Bieber como ganhador da categoria “Melhor Artista Internacional “ foi um dos troços mais desanimados da história da TV brasileira, uma cena ainda piorada pela participação ridícula daquela menina pentelha que ficou conhecida como “mini Lady Gaga”;

– Depois de a dupla 3OH!3 pagar mico antes de anunciar apresentação do Fresno, o grupo gaúcho fez um pastiche canhestro de 30 Seconds to Mars, tentando botar uns timbres mais agressivos em seus instrumentos só para mostrar que estão mais pesados, embora ainda sensíveis. Coisa ridícula!

– O fato de o megacanastrão Roberto Justus ter apresentando a categoria “Revelação” já dava bem a medida do que viria a acontecer. Dentro de uma relação de grupos horríveis e da alienígena presença de Karina Buhr, a vitória do Restart seria o início de uma das mais inacreditáveis estratégias de votação popular – quero acreditar que sem a cumplicidade da MTV – já presenciadas na TV mundial;

– Em uma das vinhetas de intervalo, Sandy cantou ao lado de Mallu Magalhães, que continua tão lesada que sequer é capaz de conseguir afinar o seu violão. Constrangedor foi pouco;

– Os artistas focalizados na plateia demonstravam uma total indiferença não apenas em relação ao que acontecia no palco, mas no evento em geral. Vi gente que, se pudesse, estaria jogando “batalha naval”. Não é mesmo, Samuel Rosa? Não é mesmo, Cazé?

– Quando o Restart começou a ganhar mais prêmios, vaias começaram a ser ouvidas dentro do recinto, algo que passou a desesperar a direção do programa, que precisou abaixar o volume do áudio da plateia e mudar rapidamente para outra atração;

– Foi triste ver um cara talentoso como o Adnet sendo obrigado a ler um texto ridículo a respeito de “TV on demand”;

– Na categoria “Web Hit”, o pessoal vencedor – com uma patética paródia do Justin Bieber – mostrou como não receber um prêmio, tamanha a falta de noção demonstrada na ocasião;

– O Restart ganhar como “Melhor Pop” e um embusteiro como Diogo Nogueira ser o vencedor na categoria “Melhor MPB” foi um daqueles sinais de que o Apocalipse deve acontecer entre quinta e sexta-feira da semana que vem;

– O Capital Inicial – não por acaso, a única banda do chamado “rock brasileiro dos anos 80” que conseguiu reciclar o seu público para sobreviver aos dias atuais – até que tentou fazer uma apresentação digna, mesmo botando mais um guitarrista e um violonista para dar aquele “peso Mandrake”, mas uma grade descendo fora de hora e separando Dinho Ouro Preto de seus companheiros deu a impressão que estávamos diante de um cirquinho de oitava categoria;

– A tal “Jam com Nova Geração” fez com que eu temesse pelo futuro da música no Brasil. Sério;

– A apresentação de Otto foi um desastre. Embora a boa banda – com Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Pupilo (Nação Zumbi) – tenha se esforçado em emprestar alguma dignidade sonora, as desafinações do vocalista e sua presença de palco que mais parecia a de um chimpanzé triatleta estragaram tudo. O mais triste foi constatar o famoso “corporativismo entre artistas” ao ver Arnaldo Antunes declarar, após o evento, que “Otto arrasou”. Só se ele usou o verbo no sentido de destruição;

– Quando o Restart ganhou na categoria “Hit do Ano”, tomou uma vaia tal que os próprios apresentadores pediram para que a banda fosse aplaudida. Quando também venceu como “Artista do Ano” – prêmio apresentado pelo “craque Neymar-filme-tostado”, o constrangimento com mais uma onda de vaias foi tamanho que a própria banda agradeceu a quem os vaiou, tentando mostrar um falso “fairplay”;

– A apresentação do OK Go! – com guitarra em playback – foi de uma indigência intolerável para uma atração internacional. Deveriam ter sido presos e deportados;

– No final constrangedor, outra ótima ideia – a tal “Gaiola das Cabeçudas” – foi desperdiçada pela absoluta falta de animação da plateia. Nem mesmo as presenças de Valesca Popozuda e seu alter-ego – sua própria bunda – conseguiram tirar a platéia e o telespectador de um profundo torpor.

No final, ficaram algumas constatações:

1) A faixa etária do público que leva a MTV a sério agora é outro – e ainda menor: vai dos oito aos 12 anos. Acima disto, é gente com sérios problemas mentais;

2) A tal Marimoon e esse pessoal do Quinta Categoria são os personagens mais grotescos da TV desde os tempos do filme Corcunda de Notre-Dame na “Sessão de Gala” de sexta à noite;

3) Brasileiro é incompetente até para administrar uma franquia, já que a MTV Brasil conseguiu piorar ainda mais o que já vinha pronto lá de fora;

4) Este VMB 2010 deveria ser lançado em DVD como material de auto-ajuda, pois é impossível alguém não se sentir uma pessoa melhor depois de assistir a esta avalanche de atrocidades artísticas;

5) Se os fãs destas tais bandas coloridas de “happy rock” é que irão governar este País no futuro, avisem aos seus filhos e netos que a Humanidade deve se preparar para voltar a viver em árvores;

6) Perto de qualquer VMB, o horário político parece um desfile de cientistas e professores de Harvard.


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26 responses

22 09 2010
BERNARDO

eu tenho vergonha de ser brasileiro em vários aspectos!
Um deles é a nossa música atual…

Lamentável e deprimente ver grupos retardados como Nx Zero , Restart , Fresno , Cisne.. entre outras merdas.

O que está acontecendo ? Não há explicação…

E digo mais, não são apenas bandas de pop rock , rock que transformaram-se em uma miséria. Cadê a MPB ? As “músicas” atuais estão dignas de dó!

Restart = 5 prêmios no VMB ! Que legal .. Que banda do caralho hein rs rs
Isso representa alguma coisa ?

Me recordo de uma última banda que realmente fez um rock and roll dos bons chama-se RAIMUNDOS.

Raul Seixas lá no céu deve está dando risadas e agradecendo de joelhos :
“GRAÇAS A DEUS EU FUI EMBORA”

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Pois é, Bernardo, a coisa está feia. E o pior é que não é um fenômeno brasileiro, é mundial! Só discodo de você com relação a Raulzito: para mim ele iria querer muito estar aqui para poder esculhambar essa merda toda, rs… Abração, meu velho!

22 09 2010
Helton

O Raul ia tocar o terror mesmo, Gabriel heuahuhuaeuh
Cara, Brasil não tem salvação não, a maioria do povo é mal educada e folgada… não há estudo de qualidade (sem ser pago) … bem a maioria não quer estudar é verdade… E ainda me perguntam por que minha banda canta em ingles hahaha.

Abraz

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

rs… Raul já tocava o terror nas bandas dos anos 80 – só vi ele poupando o Titãs e o Camisa – imagina nas atuais? Abração, Helton!

22 09 2010
BERNARDO

A música acabou faz tempo. E a MTV ? esse canal ainda existe ?? Meu deus, quanta palhaçada!! Lembro-me quando era moleque e assistia Mtv ; Bons tempos que não voltam mais…

Agora falando nas bandinhas emos (LIXOS)

Não entendo o que dá na cabeça desses doentes mentais em pensar que são rockstars. São motivos de chacota no cenário nacional.

Agora o povo brasileiro alimenta isso.. Esse o problema mais grave!
Por isso somos uma país de 3º mundo. Povo ignorante! Aceitam tudo e ficam de braços cruzados.

O POVO BRASILEIRO MERECE SE FODER MESMO! OLHA OS NOSSOS POLÍTICOS : TIRIRICA ESTÁ GANHANDO NAS PESQUISAS EM SP.

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

É verdade, Bernardo, o Brasil tem os artistas e políticos que merece, mas como já disse abaixo, é um fenômeno mundial. Mas olhe pelo lado bom: depois que chegarmos no fundo do poço, não há saída a não ser subir, rs… Abração, meu velho!

22 09 2010
Brazilrocksociety.blogspot.com

É… se nos rockeiros de verdade não fizermos nada
o Brazil vai ficar mais fudido do que ja está…

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Acho complicado qualquer um fazer algum coisa. É um mecanismo viciado, que gira sozinho, independente do que façamos. Só se muda isto com educação, e não é rápido, é uma mudança de 20, 30 anos… Abração, meu velho!

22 09 2010
John V7

Eu acho que o negocio é o seguinte desde de um tempo o Rock é moda , primeiro com Beatles , Stones , depois Black , Led e Deep que nem foram tanto assim , depois o Punk , depois o NWOBHM , que tambem não foi tanto depois foi o mal aceito na epoca Hard Rock ou Metal Farofa ou Glam Metal ou Hair Metal , depois o Grunge , depois poucas bandas se salvaram , eu acho que a musica ainda pode voltar aos velhos tempos , tem gente começando agora como Crashdiet , Darkness , Wolfmother e outras que são boas , so espera o proximo tipo de Rock , sem fala que a maioria das pessoas conhecem Rock com Guitar Hero , por isso gosto do jogo , mas parece que o jogo que foca mais no Hardcore Punk , então não sei se vo continua gostando

A banda favorita do vocalista do Restart é o Guns , que pena que ele não aprendeu com os mestres

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Fala, cara! Não acho que o Rock sempre foi moda, até porque moda acaba bem rápido, e os Beatles, Zeppelin, Stones, Purple, Kiss, Maiden, etc, tão aí há muuuuito tempo, mas houveram épocas em que gostar de Rock virou moda, como nos anos 80 aqui no Brasil. Mas sem dúvida a situação nunca foi tão ruim… Abração, cara!

22 09 2010
BERNARDO

depois que chegarmos no fundo do poço, não há saída a não ser subir

muito foda mesmo 😦

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

rs… Mas é verdade, meu velho. Só o tempo dirá o que vai acontecer… Abração, Bernardo!

22 09 2010
Roberto A

tudo lindo, mas o primeiro texto sobre isso foi o meu,,rs

e deixemos raulzito descansar em paz, se bem que marcelo nova idem,,rs

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

rs… É verdade, Roberto, você foi o primeiro. Quanto à Marceleza, por mim ele ainda fica por aí por muito tempo. Aliás, já estou ansioso pelo próximo álbum… Abração, cara!

22 09 2010
John V7

Eu me expressei mal , o rock de antes ficava muito mais tempo e nunca foi ruim , e voce tem razão as bandas que voce citou continuam firmes e fortes , mas infelizmente bandas de hard rock dos anos 80 pucas continuaram como Guns N Roses , Skid Row , Bon Jovi , Poison e Motley Crue que ainda tão ai algumas estão voltando como Ratt e Dokken , mas muitas ficaram para tras e do NWOBHM que não virou moda tambem algumas como Tygers Of Pang Tang ficaram para tras , mas o dito Happy Rock , acaba com o Rock , assim como NX Zero e Fresno , e outra coisa o nome Happy Rock ja existe , e não tem nada a ver com eles

reparando no texto o que eu falei fico nada a ve

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Fala, meu velho! É normal algumas bandas ficarem pelo caminho – em qualquer movimento na história do Rock – mas meu consolo é que estas bandinhas do VMB têm prazo de validade bem curto… Grande abraço, cara!

22 09 2010
Roberto A

é como lobão disse no passado: o rock errou.
punto e basta!

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

rs… Fala Roberto! Pois é, cara, mas na verdade eu acho que quem errou foi o povo, rs… Abração, meu velho!

22 09 2010
Roberto A

da série ‘acredite se quiser’.
lembrei duma gabriel, e resolvi compartilhar com vc.
em 1989 eu estava num hotel aqui em cuiabá onde moro, meu pai tava passando um tempo lá. estávamos na beira da piscina quando de repente quem passa na nossa frente? raulzito,marcelo nova e cia, incluindo gustavo muller ex-camisa. foi o único show do cara em cuiabá nesse dia. surreal, mas real.

punto e basta!

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Fala, Roberto! Pô, cara, do caralho esta história! Infelizmente com Raul eu nunca me encontrei, mas já fiz várias entrevistas com Marceleza e já toquei – de vez em quando eu faço um som também, rs – com o Gustavo Muller e com o Karl Hummel lá em Salvador. Vou ver se acho alguma foto por aqui, rs… Abração, meu velho!

22 09 2010
Roberto A

O Gustavo foi tão da hora que meu em mãos a chave do próprio quarto pra mim ir dar uma olhada nas guitarras dele. foi do cacete esse dia pra mim. inesquecível. a noite fui ver o show deles, meia boca, porém histórico.

22 09 2010
Gabriel Gonçalves

Fala, Roberto! O Gustavo é uma figuraça mesmo! Ri muito com as hustórias que ele contava nos ensaios que a gente fez… Gente finíssima. Abração, cara!

22 09 2010
Marcos Gonçalves

KKKKKKKKKKKK. Já eu fiquei orgulhoso de ser brasileiro, compatriota de um jornalista que escreveu o melhor relato de todos os tempos.

23 09 2010
Gabriel Gonçalves

rs… É mesmo, Marquêra. Eu discordo de muita coisa que o Régis Tadeu escreve, mas neste texto ele foi de uma felicidade retumbante. Abração, meu velho!

23 09 2010
Zé Henrique

Assim, o mainstream tá mesmo uma bosta, a olhos e ouvidos vistos.
Mas sou daqueles que acham que há muita coisa boa no underground.
Hoje em dia vc tem que ir atrás, tem que fuçar pra achar o que vale a pena.
E com a internet… Quem diabos precisa de MTV?
A MTV virou uma grande comédia, em todos os sentidos.
Enfim, deixa ela pagar mico.

Abraço

23 09 2010
Gabriel Gonçalves

Eu concordo com você, Henrique. Aliás, se voltarmos um pouquinho aos anos 90 – quando surgiram boas bandas de Rock n’ Roll – o manstream era dominado por bandas de pagode, axé, etc, e foi no undeground que grupos como o Raimundos, Tianastácia, Virna Lisi se criaram. Abração, cara!

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